Nos últimos meses o preço das commodities aumentou consideravelmente.  No programa Café com Economia da última semana de agosto, o professor Márcio Kalkmann, economista que tem experiência nos assuntos do agronegócio abordou o tema na Rádio Olinda FM, com o apresentador Paulo Staziaki.

Você pode acessar o programa clicando aqui: 

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Você pode assistir ao programa e também, na sequência pode entender  a precificação das commodities agrícolas conforme relato e análise do economista. De acordo com o professor, existem “ingredientes” bem específicos que explicam essa situação. Acompanhe:

“As leis de preço de mercado para commodities são simples, geralmente vinculadas ao equilíbrio entre oferta e demanda. Portanto, havendo oscilação entre ofertantes e demandantes, o reflexo se estende para os preços. Tivemos um período em 2012 que os preços foram recordes para a soja, por exemplo. Naquela época a situação eram as estiagens. Os EUA perderam cerca de 50 milhões de toneladas e o Rio Grande do Sul passou por uma grave estiagem naquele ano. Embora o nosso estado tenha também sofrido significativas perdas em 2020, especificamente para a soja, hoje a conjuntura dos preços envolve inúmeras variáveis.

Na atual conjuntura não há apenas um fator criando esta tendência de alta. Vejamos: há primeiramente uma oferta justa. Outro fator a ser considerado é o câmbio favorável que chama atenção de demandantes mundo afora, e uma demanda consistente que é a quebra da oferta em proteína animal (lê-se aqui os impactos da peste suína africana) na China. Por último, e não menos importante é a própria viabilidade dos negócios das commodities agrícolas, o que significa dizer que existem contratos de médio prazo sendo fechados com preços não abaixo do que atualmente visualizamos. Em outras palavras, há confiança em realizar contratos de garantia para este mercado. 

Entrando nas facetas da precificação, vejamos o caso da soja brasileira. Há uma disputa pelo produto agrícola. O pujante está principalmente nas indústrias produtoras de óleo de soja e as processadoras de soja em farelo que direcionam suas vendas para as indústrias produtoras de carne (frangos e suínos) que usam a soja como insumo na produção. As exportações de frango e suínos estão crescendo. 

O biodiesel brasileiro é outra mercadoria que pode ter restrição de expansão, justamente pela oferta justa de soja no mercado (já estão inclusive alterando a composição do biodiesel, devido a essa situação de rigidez de oferta de curto prazo). Não tendo como aumentar a oferta de soja no curto prazo, há uma situação de alta de preços devido a demanda. Inclusive, haverá necessidade de importar soja, cerca de 2 mil toneladas (farelo) da Argentina, ainda neste ano. 

Em outras palavras, se já era atraente vender soja para os Chineses, no atual cenário está valendo a pena vender para a indústria nacional, inclusive pedidos de recompra (famosos washout já estão ocorrendo), pelo fato do mercado interno pagar mais pela commodity do que os portos estão pagando para exportar. Portanto os fatores somados (oferta justa + demanda interna forte) explicam parte deste cenário. Já a desvalorização do real frente ao dólar tende a deixar o mercado brasileiro mais introvertido. Isso porque nos portos é atrativa a venda da soja. 

A confiança nos contratos é outro fator que gera uma alta no preço. No relatório USDA de Chicago, observamos um crescimento no número de contratos de compra de commodities agrícolas. A crença é de que os volumes de compra por parte da China continuem evoluindo, já que é a principal demandante. Isso gera no mercado uma oxigenação, refletido em milhares de fundos de investimentos em favor do mercado da soja. 

Há uma quebra de oferta de proteína animal que gira em torno de 14 milhões de toneladas na China e o Brasil não deve conseguir suprir essa necessidade. Portanto os preços podem continuar em alta até o início do ano de 2021, tendo em vista a necessidade da China em assegurar sua segurança alimentar. Não vai faltar soja estadunidense para os chineses, mesmo assim os preços continuam com tendência de alta e, isso deve ser considerado! 

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Finalizando, é importante salientar que o agricultor brasileiro está capitalizado, não apenas pela soja, mas ao aquecido mercado de outras commodities como o milho, arroz e também, a pecuária. O nosso estado (RS) descapitalizou muitos agricultores, o que poderá ocasionar retração de área plantada para a safra de 2020/2021, logo a safra de soja será modesta ou tímida, frente ao que se espera das demais regiões do país.

Importante reforçar que o Brasil é um importante player da soja mundial e que a soja brasileira já está praticamente toda vendida. Mas mesmo assim há uma pressão em precificar para cima os preços (em Chicago já ultrapassam US$9,0/Buschel). Vamos acompanhar as próximas semanas, mas considero que estamos entrando em um patamar de precificação diferenciado, considerando o viés positivo internacional. O agricultor precisa ficar atento para as flutuações de preços e acompanhar a dinâmica deste mercado para aumentar seus ganhos”.

Elaborado por: Márcio Kalkmann, economista e professor